Por que Lutero removeu 7 livros da Bíblia católica?

Flávia Mello
4 min readFeb 15, 2024

--

Martinho Lutero foi um monge agostiniano que iniciou a Reforma Protestante no século XVI. Ele contestou algumas doutrinas e práticas da Igreja Católica, a autoridade do papa e a salvação pela fé e obras. Lutero também fez uma tradução significativa da Bíblia para o alemão, embora não tenha sido o primeiro a fazê-lo. Ele usou como base o texto hebraico do Antigo Testamento e o texto grego do Novo Testamento. Nesse processo, ele excluiu sete livros que faziam parte da Bíblia católica, mas que não estavam presentes no cânon judaico. Esses livros são chamados de deuterocanônicos, pois foram reconhecidos como inspirados pela Igreja Católica em um segundo momento, após os concílios de Hipona, Cartago e Trento. Os livros deuterocanônicos são:

Tobias
Judite
Sabedoria
Eclesiástico (ou Sirácida)
Baruc
I Macabeus
II Macabeus

Além disso, Lutero também retirou alguns trechos dos livros de Ester e Daniel, que também estavam na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento usada pelos primeiros cristãos.
Mas a sua intenção de alterar a Bíblia não se limitou ao Antigo Testamento. Lutero também queria tirar do Novo Testamento os livros de Hebreus, Tiago, Judas e o Apocalipse, pois ele os considerava menos “autênticos” ou “menos inspirados do que os demais”. No entanto, ele não teve sucesso nessa tentativa.

Quais foram os critérios de Lutero para excluir os deuterocanônicos?
Lutero usou alguns critérios subjetivos e arbitrários para excluir os deuterocanônicos da sua Bíblia. Entre eles, podemos citar:

Ele rejeitou os livros que não estavam no cânon judaico, que foi definido no Sínodo de Jâmnia, no final do século I d.C. No entanto, esse sínodo foi uma reação dos judeus contra os cristãos, que usavam os deuterocanônicos para defender a fé em Jesus como o Messias. Além disso, o cânon judaico não era uniforme, pois havia outras comunidades judaicas, como os etíopes e os egípcios, que aceitavam os deuterocanônicos como sagrados.

Ele rejeitou os livros que não estavam escritos em hebraico, mas em grego ou aramaico. No entanto, isso não é um critério válido, pois o próprio Novo Testamento foi escrito em grego, e há evidências de que alguns deuterocanônicos, como Tobias e Judite, foram originalmente escritos em hebraico ou aramaico, mas se perderam com o tempo.

Ele rejeitou os livros que contradiziam a sua doutrina da salvação pela fé somente, sem as obras. No entanto, isso foi uma interpretação pessoal e tendenciosa, pois os deuterocanônicos não negam a fé, mas mostram a importância das obras como fruto da fé e como expressão do amor a Deus e ao próximo. Por exemplo, o livro de Sabedoria ensina que a sabedoria é um dom de Deus que conduz à salvação (Sb 9,18), o livro de Eclesiástico exalta a fidelidade à Lei de Deus como fonte de vida (Eclo 17,11), e o livro de Macabeus mostra o valor do martírio e da oração pelos mortos (2Mc 7,9; 12,44–46).

Como os deuterocanônicos refutam os dogmas de Lutero?
Os livros deuterocanônicos refutam os dogmas de Lutero de várias maneiras, pois contêm ensinamentos que confirmam a doutrina católica e que contradizem a doutrina protestante. Vejamos alguns exemplos:

Os deuterocanônicos defendem a intercessão dos anjos e dos santos, que Lutero negava. Por exemplo, o livro de Tobias mostra como o anjo Rafael ajudou Tobias e sua família, e revelou que ele apresentava as orações dos justos diante de Deus (Tb 12,12–15). O livro de Judite mostra como Judite, uma viúva fiel, intercedeu pelo seu povo e derrotou o inimigo Holofernes, sendo louvada por todos como uma heroína (Jt 13,18–20; 15,9–10).

Os deuterocanônicos defendem a veneração das imagens sagradas, que Lutero considerava idolatria. Por exemplo, o livro de Sabedoria elogia a atitude dos israelitas que levaram consigo a arca da aliança, o tabernáculo e os objetos sagrados durante o êxodo, pois eles reconheciam que essas coisas eram sinais da presença de Deus (Sb 10,15–21). O livro de Baruc mostra como o profeta Jeremias escondeu a tenda, a arca e o altar do incenso em uma caverna, para que fossem preservados até o tempo da restauração de Israel (Br 6,1–9).

Os deuterocanônicos defendem a existência do purgatório e a eficácia da oração pelos mortos, que Lutero rejeitava. Por exemplo, o livro de Macabeus narra como Judas Macabeu mandou oferecer um sacrifício pelos seus soldados que morreram em pecado, pois ele acreditava na ressurreição dos justos e na possibilidade de expiação dos pecados após a morte (2Mc 12,39–46). O livro de Sabedoria afirma que os justos que morrem são provados como o ouro no fogo, e que Deus os castiga para os purificar e salvá-los (Sb 3,5–6; 11,23–26).

Conclusão.

Os livros deuterocanônicos são parte integrante da Bíblia católica, pois foram inspirados por Deus e transmitidos pela Tradição da Igreja. Eles contêm verdades reveladas que confirmam e enriquecem a fé católica, e que refutam os erros e as heresias de Lutero e dos protestantes. Por isso, devemos ler, estudar e meditar esses livros com amor e respeito, pois eles são a Palavra de Deus para nós.

Obrigada pela leitura e até a próxima!!! ;)

--

--

Flávia Mello

Apaixonada pelo Conhecimento e obstinada pela Excelência.